GenAI e o Pensamento Crítico
Porque Nem Tudo É Milagre Tecnológico
Maritza M. Carvalho Francisco
9/16/20243 min read


A GenAI prometeu uma revolução na força de trabalho: deixe o computador cuidar do seu trabalho burocrático para que você tenha tempo para um pensamento mais crítico, nobre e criativo. Essa promessa soa perfeita no papel, ou no ppt que não compila (né Luís Rúdi Afonso Silva?), pois oferece uma possibilidade real de aumento na produtividade.
Mas será que a GenAI está cumprindo sua grande promessa? Neste artigo, a discussão gira em torno do pensamento crítico e não da IA em si. Paira uma dúvida se esse tipo de pensamento é realmente promovido nas organizações e entre as novas gerações.
Lúcia Helena Galvão, filósofa e palestrante renomada, afirma que o pensamento crítico é essencial para a verdadeira liberdade intelectual e emocional. Em suas palestras, ela destaca que, para pensar criticamente, precisamos praticar a auto-observação constante e o questionamento, buscando sempre a lógica e a coerência nos argumentos apresentados. Ela utiliza uma metáfora poderosa: a de não sermos "chocadores de ovo de cuco". Isso significa não apenas aceitar passivamente as ideias impostas por outros, mas ser alguém disposto a questionar suas próprias ideias e suposições. Esse processo de reflexão e autoavaliação é o que nos diferencia como pensadores críticos. Mas com as @trends e #hashtags está cada vez mais fácil fazer parte de alguma manada, de ser representante típico da classe “chocadores de cuco premium plus”.
Então, para que as organizações colham os frutos prometidos pela GenAI, é fundamental cultivar uma cultura que valorize o pensamento crítico. Isso envolve criar um ambiente onde questionamentos são incentivados e onde a inovação surge do desafio às normas estabelecidas, obviamente com ética e respeito.
O grande problema está aí: incentivar as pessoas a pensarem por si mesmas, construindo conhecimento e argumentos baseados em suas reflexões e análises, e dar a elas o direito de se expressarem, criarem, inovarem. Para desenvolver um pensamento crítico, é necessário ter conhecimento, curiosidade, lógica de raciocínio e coerência de ideias. Mais importante ainda, é preciso estar disposto a sentir o frio na barriga de questionar nossas próprias certezas. Essa capacidade de "sentir um pouco de frio por não estar sempre coberto de razão" é fundamental para desafiar o status quo e inovar verdadeiramente.
O conhecimento necessário, vai além da superficialidade, além dos métodos milagrosos compostos pelos 10 passos para se alcançar seus objetivos, ou pelos 3 segredos que o fazem um expert. É preciso ir além dos vídeos de 5 minutos do youtube, dos 20 minutos de podcasts ou da leitura de 10 tweets de grandes influenciadores. Embora esses recursos possam até ajudar, caso tenhamos conhecimento suficiente para analisar se o conteúdo tem valor ou não, eles não te formam, não te transformam em um expert. Mas assim como existem as fake news, existem os “fake knowledges”. E ai, meu amigo, não há GenAI que dê jeito, pois ela pode, inclusive, “absurdar”, ou alucinar, como dizemos no mundo acadêmico. Sem conhecimento, ficamos reféns do melhor discurso, do texto logicamente encadeado e intencionalmente equivocado, e de narrativas que não refletem a realidade e nem permitem a evolução contínua. Com o devido conhecimento conseguimos questionar de maneira assertiva para identificar falácias, equívocos ou alucinações.
Portanto, para utilizar a GenAI em seu dia a dia e aumentar a sua produtividade, busque aprender ao máximo sobre o contexto no qual você a utilizará, a fim de ter o conhecimento necessário para fazer os questionamentos corretos e conduzir a IA para dar o melhor resultado, dentro dos padrões de qualidade estipulados por você. Muitas vezes você terá que inserir documentos, artigos, parâmetros, ou seja, base de conhecimento especializada para que a tarefa seja realizada sem alucinações ou equívocos. E você terá que ter raciocínio lógico e coerência em suas ideias para analisar criticamente o resultado que a IA lhe entregou.
Um outro aspecto importantíssimo que as organizações devem considerar para incentivar o pensamento crítico em seu ambiente é a existência de várias gerações com comportamentos e habilidades diferentes. A geração X, mais analítica e “desconfiada”, devido ao contexto em que cresceram, enquanto os Millennials e a Geração Z são mais adaptáveis e abertos a novas tecnologias, incluindo a IA. No entanto, essas gerações mais jovens podem se tornar excessivamente dependentes da IA arriscando a perda de habilidades críticas fundamentais e da independência intelectual.
O pensamento crítico é o alicerce que permite que a GenAI cumpra suas promessas nas organizações. No entanto, este pensamento não surge automaticamente; ele precisa ser cultivado e incentivado em ambientes que valorizam o questionamento e a inovação consciente. À medida que diferentes gerações interagem com tecnologias emergentes, é crucial encontrar um equilíbrio entre a dependência da IA e a manutenção da autonomia intelectual. Afinal, a IA, assim como o dinheiro, não transforma ninguém; apenas potencializa aquilo que você é. Portanto, para que a GenAI seja uma verdadeira aliada, precisamos de mentes preparadas, críticas e, acima de tudo, humanas.
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